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8 de nov. de 2009

Projeto Motikomi, parte 3: estrutura

Primeiras paginas desenhadas!  Yo!

Mais um capitulo da serie de materias sobre manga, passando principalmente pela parte de criacao, mostrando um passo-a-passo de como eu vou fazer uma historia para ir bater a cara na porta da Shueisha. Minha intencao eh fazer um motikomi, como sao chamadas as apresentacoes individuais diretamente com o editor da revista. Claro, se isso me abrir essa porta, vai ser legal, mas soh o fato de poder aproveitar do conhecimento profissional de um editor da Shonen Jump jah vai valer.

E eh claro, se voce continuar acompanhando ateh lah, eu pretendo contar os detalhes. (e pretendo continuar copiando e colando a introducao!)

PS: a imagem ai eh das primeiras paginas de Kung-Fu Baby Gu, ainda no lapis!

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Nos quadrinhos, existe uma grande diferenca com o cinema, que eu costumo usar muito como exemplo. E essa diferenca eh o movimento.

Enquanto no cinema, voce pode sentar e assistir sossegado a uma historia qualquer, nos quadrinhos, voce precisa ler. O tempo eh ditado pelas palavras e cada leitor acaba tendo seu tempo unico.

Exatamente por causa disso, a criacao de uma historia em quadrinhos eh muito diferente da criacao de um filme, mesmo compartilhando muitos pontos em comum.

No cinema, voce tem o tempo real, e vai precisar trabalhar com isso. Por isso, as cenas tem o tempo cronometrado, existem pausas contadas entre as falas, as cenas, posicionamento de camera, de atores, etc. Nos quadrinhos, voce tem outras coisas com a qual se preocupar.

O tempo numa pagina de quadrinhos eh contado de outra forma, mais flexivel e indeterminada do que o relogio que cronometra uma cena de cinema. E pra entender isso, precisamos pensar diretamente no publico.

Quando voce, como leitor, pega uma revista e vai ler, provavelmente, voce pega ela e comeca a virar as paginas, a partir da capa, aos poucos. Le uma pagina, le outra e vira a folha. Basicamente eh isso, como quando voce le um livro ou qualquer outro meio baseado em cadernos. Mas diferente do livro, voce nao le em linha reta, paragrafo por paragrafo.

Em cada pagina, nos temos quadrinhos, com conteudo visual que contracena diretamente com o texto corrido. Cada quadro tem o seu tempo, cada balao, e com isso, nos criamos uma historia dentro da impressao pessoal de cada leitor.

duas pagina de nemu da minha historia Isso, nos mangas, eh levado muito a serio. Cada historia tem um tempo ideal, cada genero pede um ritmo proprio e cada publico estah pronto ou nao para cada tempo que voce puder apresentar.

Leitores com mais habito, nao se incomodam com textos complicados, e tem uma aceitacao maior para paginas detalhadas. Um publico menos habituado, ou de leitores em fase de aprendizado, costumam preferir textos ageis e paginas simples. O publico masculino tem mais preferencia pelo dinamismo. O feminino, gosta de detalhes que o publico masculino nao faz questao.

Poderiamos colocar os quadrinhos pelo volume de informacao por pagina e sua aceitacao pelos diversos generos e veriamos os dados claros de cada abordagem.

102935871_1 Revistas adultas costumam ser bem especificas, buscando um publico bem restrito. Mesmo depois de dividir por sexo, ainda se divide por outros criterios. Pegue por exemplo, a linha adulta masculina da Shueisha. A Young Jump, dividida em dois titulos, um semanal e outro mensal, traz material com abordagem mais adulta, mas muito mais abrangente. Os temas sao mais casuais e parecem ser mais historias juvenis sem os limites da censura que a idade traz. Temos mais texto e mais detalhes que em uma pagina de manga juvenil, mas ainda eh facil de acompanhar, por ser uma leitura realmente casual. A periodicidade alta tambem mostra que tipo de publico tem.

61XO86bWg9L A Super Jump e Oh Super Jump tem uma periodicidade menor. Uma sai duas vezes ao mes, a outra eh mensal. Os temas e a abordagem sao voltadas pra um publico mais sofisticado, com quadrinhos historicos, tecnicos, mais realismo e mesmo as historias mais leves, como as gags, costumam ter um clima diferente das historias populares.

A Business Jump, ao contrario do que o nome aparenta, nao traz historias sobre negocios, e sim para um publico que trabalha em escritorios. As historias sao leves, facilmente digeriveis, perfeitas para o leitor que provavelmente vai ler em uma pausa, dentro de um trem, a caminho de alguma negociacao.

61ia1f0zDTL A Ultra Jump eh a revista hardcore para adultos. Ao contrario de todos os outros generos e mesmo dentro do publico adulto masculino, o leitor habitual de quadrinhos dessa faixa se importa muito com a qualidade do desenho, estilo, quer personagens mais marcantes, etc. Eh onde sai, por exemplo, Gunmu (Battle Angel Alita no ocidente) e Tenjo Tenge. As paginas sao carregadas visualmente, mas nao necessariamente de texto. A diferenca dela para a Young eh que a Young realmente eh casual e a Ultra nao tem essa preocupacao.

Ainda temos a Playboy, que nao tem nada a ver com a revista ocidental (nao sei porque o nome…) que tem tres mangas, a continuacao de Kinnikuman, a continuacao de Midori no Makibaoh (os dois, classicos da Shonen Jump) e a historia de carros esportivos de Kya Asamiya, Kanojo no Carrera. Os tres sao leituras leves, para serem digeridas entre noticias populares e fotos de garotas de biquini. A revista em si tem um perfil parecido com uma Trip ou Vip, uma revista informativa masculina, misturando materias, ensaios e colunas, soh que com um atrativo a mais. Sendo uma classica historia de herois (apesar do tema luta-livre, MMA, no fundo, Kinnikuman eh uma historia de super-heroi), outra de corrida de cavalos e a terceira, de carros esportivos, fica bem claro o perfil do publico leitor da revista.

Todas as historias sao adultas, feitas para serem lidas por homens que jah passaram pelo ensino elementar. No Japao, praticamente nao existem analfabetos, o ensino medio eh obrigatorio e garantido pelo governo. Entao, leva-se em conta que, no minimo, um adulto sabe ler o basico. Alguns, sabem ler mais e tem esse costume. Outros, nao gostam de leituras longas. Alguns tem bagagem para leituras mais carregadas, outros nao. Alguns tem referencias mais diversas. Mas a maioria ainda eh no “esquema escola, cinema e televisao”.

QP, participacao especial dos meus dedos Depois de ver a diversidade do publico adulto, podemos ver claramente o motivo da popularidade da linha juvenil. Nao soh foi essa a base de todos os quadrinhos, onde nasceram todos os estilos que hoje nos lemos, mas tambem eh ateh hoje, o quadrinho mais acessivel de todos.

O quadrinho juvenil masculino tem uma unica regra para diagramar suas paginas: Limpeza.

Um editor desse tipo de historia sempre vai pedir pra que voce tire o excesso. Paginas carregadas tornam a leitura cada vez mais dificil, principalmente para leitores casuais. Portanto, cada quadro, cada balao, cenario, cada palavra e cada linha que puder ser eliminado, deve ser eliminado. A limpeza da pagina vai facilitar a leitura de um publico muito mais abrangente.

Tendo isso em mente, eu procurei ser o mais economico possivel na criacao das paginas. Tentei usar somente as cenas que precisaria para a historia, nao sobrecarregar de informacoes inuteis e usar as piadas para fazer ligacoes. Piada, como fonte de informacao da historia, eh quase inutil, mas eh importante pra criar um clima mais engracado, que eh o que eu pretendo com essa historia.

nemu para Vagabond Nos quadrinhos, existem varias formas de se preparar as paginas. No manga, em geral, eh usado o nemu, um rascunho das paginas, onde voce prepara a narrativa e mostra para o editor, que vai aprovar ou nao. Alguns autores fazem o nemu quase completo, todo detalhado, ateh com cenarios. Outros, fazem extremamente simples. Takehiko Inoue, de Vagabond, costuma fazer quase que somente os baloes, com um ou outro desenho, algumas setas indicando a direcao da narrativa, sem nenhum rosto detalhado. Isso soh eh possivel por causa de sua experiencia. Ele trabalha sozinho, ninguem desenha pra ele, entao nao tem necessidade de detalhamento complexo. E o editor tem mais confianca, sabe que ele nao vai fazer nada errado, nao com a carreira solida dele, entao, em geral, as reunioes sao mais pra decidir o destino da historia e coisas assim. Exclusivo pra estrelas, claro, mas tambem, um tratamento que parece que soh a Kodansha costuma ter.

O nemu nao eh soh pra voce mostrar pro editor e aprovar. Tambem eh uma forma de voce preparar as paginas antes de fazer o desenho em si, e poder assim visualizar a forma final e ver se o ritmo flui do jeito que voce esperava. tambem eh bom pra acertar sua historia no numero de paginas. Esse foi um problema que eu tive. Alias, nao fosse o nemu, eu teria gastado muito mais papel bom. Troquei quase vinte paginas, troquei os quadros de seis, retirei oito paginas de desenvolvimento pra levar pra sequencia final… Eh praticamente outra historia!

Com o tempo, talvez eu pegue mais pratica pra nao precisar ficar trocando tantas paginas, mas a verdade eh que a narrativa ficou muito aquem ao que eu esperava, porque eu escrevia tendo as ideias na hora.

No nemu, o que voce deve fazer? Primeiramente, uma historia em quadrinho vai lhe exigir um pensamento especial. Enquanto no cinema nos temos um tempo fluido, de mais ou menos 180 minutos, numa serie normal de manga, nos temos 19 paginas (a Jump parece ter diminuido para 17), em tempos divididos de duas em duas paginas. Pra mim, foram 45 paginas, divididas em duas.

Por que duas? Porque voce le sempre duas paginas e tem uma pausa para virar a folha, uma pausa indefinida e impossivel de prever pelo autor.

Isso faz muita diferenca para criacao de paginas, por que voce precisa pensar na historia em sequencias de duas paginas, e sempre criar pequenos ganchos no final delas para convidar o leitor a continuar a ardua tarefa de virar as paginas.

20th Century Boys e meus dedos Todo manga eh feito mais ou menos na mesma estrutura, comecando pela pagina da esquerda, vira, direita, esquerda, vira de novo. Quase sempre eh assim, nao importando editora, nem genero.

Costumamos dizer que as quatro primeiras paginas de uma historia sao decisivas. Se forem boas, o leitor continua a ler, mesmo que ao terminar, ache o conjunto ruim. Se nao gostar, provavelmente, nao vai chegar ateh as paginas em que voce melhorar. Quadrinhos pode ser cruel com quem demora pra se aquecer.

Esse pensamento funciona tambem com cinema e criou uma tradicao em fazer aberturas chamativas. Todo novo manga, todo filme no cinema, costuma usar esse pequeno espaco no comeco para mostrar uma cena muito boa que deixe o publico esperando por mais.

As quatro paginas iniciais podem ser uma amostra do dia-a-dia, da habilidade do personagem, uma piada muito boa, uma cena de acao de tirar o folego, considere uma especie de pre-climax, que chame a atencao do publico de alguma forma.

A primeira mesmo eh muito importante, por que ela eh a unica pagina que nao faz par e jah vai precisar convidar o leitor a virar a pagina. Vi uma vez uma rasgacao de seda de autores de mangas da Jump para a pagina inicial de One Piece. Uma unica pagina, contando uma historia que nao tem praticamente nada a ver com a historia em si, mas que instiga os leitores ao mesmo tempo que os situa no cenario. Sao soh tres quadros, oito baloes, numa pagina limpissima, mas que jah mostrava que Oda estava entrando na Jump pra ficar. Essa pagina valeu mais que as quatro que a sucedem, e que poderiam ser o inicio da historia sem problemas, e eh tao perfeita que foi usada quase que sem tirar nem por, como introducao do anime.

Numa pagina normal, o ideal eh dividir ela em tres blocos ou dois, dependendo do ritmo que voce quer. Esses blocos sao verticais e podem ter varios quadros ou somente um, dependendo do que voce quer fazer em cada parte. Em cada grupo de duas paginas, voce tem alguns pontos pra observar.

Akaboshi e meus simpaticos dedos  O primeiro deles eh o quadro inicial, chamado de tsukami(agarrar, ou seja, eh o quadro em que voce precisa puxar o leitor), um quadro que ganha impacto pelo tempo de espera que se tem durante a virada da folha. Muitos autores usam esse quadro pra dar peso para cenas importantes. Eu tenho o costume de usar esse impacto exatamente em cenas de impacto, como golpes especiais, explosoes. Mas pode ser usado inclusive para dar forca ao final de uma piada, a introducao de um novo personagem, etc. Voce tem um quadro desses a cada duas paginas, mas nao exagere, senao sua historia fica muito carregada e isso tambem eh negativo. Use esse poder com sabedoria.

Um segundo ponto eh a lombada. Os quadros que ficam no meio, em geral pegam a dobra do caderno, e voce pode perder detalhes deles. Portanto, o normal eh nao sangrar os quadros, nao vazar eles pra fora da pagina nesse lado. Se quiser, faca isso pra baixo e pra cima, mas nao pra dentro a lombada.

Mais um ponto eh o quadro final, mekuri (ponto de virada), que em geral eh um gancho para a proxima pagina. Um quadro que puxe voce para a proxima pagina. Pra mim, eh um quadro que em geral eu sangro. Outras coisas que voce pode fazer eh virar o olhar do personagem para o fim da pagina, mover algum objeto nessa direcao. Tambem pode ser feito jogando a visao para baixo, jah que o fim da pagina tambem pode ser pra baixo. Nesse caso, eh interessante iniciar a proxima pagina com um quadro que valorize o aspecto vertical, como um quadro que peque todo o lado esquerdo (direito no sentido oriental), e que tenha um movimento de baixo pra cima. Ele fica bem mais valorizado.

one piece e dois dedos Voltando aos blocos, por que existe esse pensamento, de blocos? Da mesma forma que temos uma pausa pra virar as paginas, tambem temos uma pausa minima para ir de um bloco para o outro, que pode ser usado pra cortar uma sequencia ou separar a ultima cena da sequencia, dando um pouco mais de destaque para um quadro.

Esses blocos podem ser separados com as estruturas que eu ensinei anteriormente, JoHaKyu ou KiShoTenKetsu. Normalmente, dialogos, eu costumo pensar como KiShoTenKetsu. Uma ideia, desenvolvo ela, reviravolta e resultado. Paginas de acao, podem ser feitas em tres etapas, JoHaKyu, por exemplo, um bate, o outro defende, um dos dois perde, o outro bate, o outro leva em cheio, o primeiro vence. Pode parecer besteira, mas esse pequeno esforco melhora muito mais o fluxo da pagina e, no final das contas, eh melhor do que fazer de forma randomica.

Blocos de quadros devem ser dois ou tres, senao, um quadro de pagina inteira. Mais que isso, fica confuso, demorado de ler, e apesar de gente como o Hayao Miyazaki usar, nao eh muito bom arriscar. Na melhor das hipoteses, voce pode ter uma velocidade lenta numa historia sem quadros de destaque ou com quadros desproporcionais demais.

Vagabond e vagabundo. Preguica de usar scanner Porem, usar muitos quadros nao eh sempre ruim. Desde que se mantenha todos eles no mesmo bloco. Eh util pra fazer o efeito de flashes de cenas, porque varios quadros posicionados horizontalmente dao a impressao de que se passam rapidamente. De novo, em One Piece, Oda costuma usar muito em cenas de batalha, pra dar enfase em cenas mais psicologicas (usando flashes que mostrem cenas randomicas) e ateh pra tornar o ritmo de sua piadas mais rapidas, muito importante na comedia. Piada eh ritmo.

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Pelo jeito, a partir desse post, cada parte vai comecar a ficar muito mais longa do que eu esperava. Vou continuar o assunto na proxima semana, explicando o funcionamento de alguns blocos comuns do manga e de alguns quadros. Ateh lah!

6 comentários:

  1. *Esperando o livro de roteiro :P ...*

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  2. Cara, que pérola de postagem!
    Devo a vc e o Lancaster tudo o que sei - e que funciona de verdade!
    Muito obrigado e fico torcendo por vc no seu motikomi!!! U-hoo! 0/

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  3. Valeu, Bruno, Andre! Eh legal ver que tem gente se interessando e mesmo que nao comenta, eu sinto isso pelos acessos no Analytics. Todas as paginas relacionadas ao Projeto Motikomi estao entre as mais visitadas, soh perdem pro meu review do Evangelion 2.0 e pro de Kenka Shoubai, que eh o campeao de visitas disparado.

    Vai ser mais legal ainda quando comecar a aparecer gente fazendo roteiros com base nisso. Eh o que eu mais quero ver!

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  4. O que eh Tsukami? Você abriu o parentese mas nao escreveu nada dentro dele. No segundo paragrafo apos a abertura do One Piece.

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  5. Desculpa, vi agora e arrumei. Eh o meu jeito de escrever, lendo, voltando, incluindo partes inteiras e deixando outras pra depois... Valeu pelo toque!!

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  6. anotando, anotando... maravilha esse post! valeu pelas dicas!
    abraçoae!

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