Dia 10 de Julho, fui pra Toquio, somente pra ver a abertura do modelo de tamanho real do Gundam RX-78-2, o Gundam original. Foi um evento badaladissimo e com um marketing forte, noticia em todos os canais, independente de ter ligacao com o anime.
Gundam comemora seus trinta anos. Coincidindo com o projeto de Toquio para sediar as Olimpiadas, a replica quase real servia como um novo atrativo para a jah atraente cidade, que tem como meta criar mais areas verdes e tornar o acesso aos estadios olimpicos o mais rapido de todos os concorrentes. O Gundam, na verdade, foi soh aproveitado.
Muito tempo antes, havia sido anunciado que Kobe, famosa pelo grande terremoto que acabou com a cidade uma vez, iria criar uma replica real do Tetsujin 28gou, de Mitsuteru Yokoyama, mangaka da era de ouro japonesa, que criou a historia do primeiro robo gigante dos mangas, alem da versao em quadrinhos mais lida da historia da guerra civil chinesa, o Sangokushi (que recentemente virou uma trilogia no cinema, pelo John Woo).
Kobe derrapou. Enquanto seguia suave, buscando patrocinio para sua replica gigante, Toquio bancou de uma vez o projeto do Gundam. Ajudou muito o fato de Gundam jah ser a serie com mais modelos montaveis e com otimos designers dando suas versoes. O projeto foi soh uma ampliacao com modificacoes pra suportar o peso, de uma versao criada por Hajime Katoki, designer de Gundam Wing e Stardust Memories. Nao por menos, afinal, Katoki eh o responsavel pela coluna Gundam Fix Figuration, da Hobby Japan, onde ele reinventa os robos da serie Gundam, somente incluindo linhas mais realistas, as vezes incluindo algumas coisas, muitas vezes, redesenhnando um conceito completamente novo.
Os responsaveis pelo projeto de Kobe quebraram a cara. Alem de mais rapido, numa temporada melhor (o verao japones), o melhor designer pra isso, Toquio ainda foi covarde: Gundam eh simplesmente o anime com o maior fandom do Japao. Provavelmente nenhum outro anime, manga ou qualquer outra coisa vende tantos modelos, dvds, brindes… Gundam praticamente estah na base de todo o mercado paralelo dos animes. Seus modelos de plastico, conhecidos como Gunpla, praticamente lotam sozinhos as prateleiras dedicadas. Os famosos Gashapons, que vendem como agua hoje em dia, comecaram com brindes da serie. Gundam tem jogos pra toda e qualquer plataforma de game. Muitas vezes, tem varios. A serie original e varias continuacoes foram vendidas em todos os formatos de video caseiro que existe. VHS, DVD, LD, Bluray, Streaming. Foi a serie que implacou o formato de compilacao para cinema. Foi o primeiro anime a formar filas dias antes da estreia na frente do cinema. Teve a primeira novelizacao (adaptacao em formato de livro) de sucesso, com uma historia levemente diferente do original. Esteve a frente dos cosplays. Enfim, Gundam esteve a frente de tudo que hoje eh tao comum. Nada mais justo que ser tambem o primeiro a ter uma replica de tamanho real.
E como fica o Tetsujin? O homem de ferro de Kobe foi apressado, alguns meses. Nao que isso tirasse a pole de Gundam. Mas lah vem ele, um gigante a sombra de um maior ainda. O Tetsujin original tem 10 metros de altura, de acordo com guias e com o manga. Mas Kobe nao quis perder pro Gundam, de 18 metros. Modificou para 18 metros tambem. O Gundam estah numa posicao quase estatica, com os bracos baixos, bem apatico. O Tetsujin, que originalmente ficaria com os bracos levantados, o peito estufado, como sempre fazia quando era chamado no anime, foi mudado para uma posicao de acao,com um dos bracos esticado para a frente. Tem que ganhar em alguma coisa, entao que seja com uma pose mais ativa, uma coisa dificil.
O Gundam tem uma base enorme, enterrada no chao, para sustentar seu peso, mesmo com as tempestades comuns aos veroes japoneses. Ainda assim, soh foi possivel deixa-lo em pe, sem muita movimentacao. Tudo pela seguranca. Queria saber como estah o Tetsujin nesse quesito… Ainda mais levando em conta que ele vai ser todo feito de ferro, como o real, enquanto o Gundam misturava fibra de vidro, plastico e outros materiais muito mais leves.
Bem, de uma forma ou de outra, o Tetsujin perdeu nessa.
E como foi o evento? O Gundam?
Eu sai de madrugada da minha pacata e interioana Toyohashi, uns 350 quilometros do parque Shiokaze, onde o Gundam estah. Depois de dirigir por quatro horas e meia, cheguei em Toquio as cinco da manha. Cidade grande eh outra coisa. Peguei transito nesse horario que nem o galo canta ainda. E nao eram soh carros. A cidade inteira jah estava cheia de gente, andando, de bicicleta… Toquio acorda cedo… Ou talvez, simplesmente nao dorme. Fiquei surpreso. E eu sou de Sao Paulo, que tambem tem essa fama, de cidade que nao dorme.
Cheguei umas seis da manha no parque, passando pelo famoso Rainbow Bridge, ponte turistica da cidade, que liga a ilha de Odaiba com o resto de Toquio. Mais ao leste fica a ilha da Disney Land. Claro, nesse horario, nao tive problemas com estacionamento, caro, mas com vagas. Poucas. As seis da manha! Placas principalmente locais, de Toquio e regiao, mas algumas de longe. Tinham uns dois de Osaka, o dobro da distancia que eu percorri. Todo mundo pra ver de perto, um pouquinho que seja.
O estacionamento do parque indica o caminho. O parque em si eh cercado de arvores, formando um enorme C, com a abertura voltada pro rio. Por entre as arvores, eu vi um enorme vulto branco. Minha palavra sincera: “CARALHO!!!”. Apontei a camera, enquadrei, cliquei. A primeira vista eu precisava documentar.
Chegando na boca do parque, ainda fechado por cercas de ferro, com segurancas em volta, eu vejo ele inteiro. “CARALHO!!!” Meu sono sumiu. Eu parecia crianca, e nao era o unico. Jah tinham umas dez pessoas, soh naquela entrada (haviam quatro entradas). Algumas com DSLRs, algumas com saboneteiras, muitos com celulares. Rodei o parque, tirando fotos de todos os angulos. Fiquei bobo. Era muito mais “real” do que eu imaginava. Real mesmo. Parecia que ia se mexer a qualquer instante, sacar o beam saber e pular contra um Zaku, explodindo-o na frente de todo mundo.
A vista do Gundam era tao impressionante que mesmo quem nao sabia do evento, ou ateh mesmo turistas que nem deviam saber o que era, esticavam o pescoco e suas cameras. Tirou o brilho ateh do cartao postal da cidade, a vista de Toquio, tirada do parque, que dah pra ver claramente a Torre de Toquio, o Rainbow Bridge, varios dos predios famosos. Todo mundo estava mirando em direcao aaquele robo gigante no meio do parque.
Jah se formavam filas. Uma para tocar no peh do Gundam. Era soh onde dava pra alcancar com a altura de uma pessoa normal. A outra era pra lojinha de lembrancas. de longe, bem maior que a outra. Lah, seria vendido o modelo comemorativo, pequeno, claro. Mas exclusivo. E japones adora essa palavra. Gentei (guentei). Exclusivo. Limitado. E lah se vai fila.
Jah tinha tirado mais de cem cliques, isso sem abrir o evento. Entao, decidi entrar em uma das filas logo. A da lojinha, claro. Pra ir tocar no Gundam, eu poderia ir com muito mais facilidade depois.
Como em qualquer evento, sempre tem umas figuras. E, acreditem, no Japao, elas sao de nivel especial.
Na minha frente estava uma familia, pai, mae, filho e uma filha jeitosinha, todos fans de Gundam. Meio sem saber onde, estava um tipo estranho. Gordinho, de oculos, chinelo, com um PSP, uma cadeira e um livro. Era o tipico otaku introvertido. Entrava em seu mundinho proprio e esquecia o mundo. Serio mesmo. Ficou lah, jogando PSP, de fone de ouvido, no maximo, vazando uma musiquinha tipo Lucky Star… E era bizarro, quando ele perdia, dava pra perceber de longe. Ele saia da fila, batia a mao na perna, resmungava e depois voltava. Esquecendo as cento e sei lah quantas pessoas que jah estavam na fila.
Tinha um outro atras de mim, um otaku carente. Ficou tentando puxar papo com todo mundo, mostrando que jah tinha vindo antes, falando de Gundam. Eu nao tenho problema em fazer amizade, mas mala eu dispenso. Baixei a aba do bone, coloquei o oculos escuro e dormi um pouco, sentado no chao. O rapaz se virou entao para uma familia com um garoto pequeno e ficou o tempo todo falando.
Mas o mais notorio de todos foi um cara que foi fantasiado de Char dos pobres. Com um pijama (pijama mesmo) vermelho, com listras amarelas mal-pintadas nos lados, uma mascara de papel laminado e um capacete de pelucia, ele entreteu a fila varias vezes, seja tocando musicas de Gundam no violao, fazendo piadas e ateh imitando os personagens (o Amuro dele era perfeito!). Pra completar, ele ainda levou um amplificador com microfone, pra todo mundo ouvir de longe.
O grupo do Char dos pobres estava na frente da fila, mas acho que nao foi soh por isso que a camera da TV ficou alguns minutos gravando o mal montado cosplayer tocando uma versao com insercoes do tema original da serie.
E o mais engracado. Quando a lojinha abriu, ele convocou a fila com a saudacao zionica. Zeak Zion! Algumas centenas de pessoas acompanharam o brado. E isso foi estranho, brincadeira ou nao… Dah ateh um certo arrepio ver tantos fans da serie bradarem juntos. Que serie conseguiria isso? Tetsujin nao conseguiria.
Na loja, eu jah tinha meus interesses. Queria o panfleto do evento, gigante, tamanho B4, alguns cartoes postais… Acabei levando a camiseta do evento, o modelo (tava barato) e tres latas de Gundam-Cookies (que estavam uma delicia). Uma eh minha, as outras duas levei pro trampo, de lembranca pro pessoal.
Sem mais o que comprar, voltei a bater fotos. Dessa vez, de perto, muito perto. Mesmo que a fila enorme para tocar o Gundam ainda circulasse ele, na ponta, onde a grade de ferro separava a fila, jah dava pra tirar de um angulo impressionante.
Fui munido das minhas duas cameras, uma D90 e uma D40, ambas Nikon. Na D90, coloquei a 28-300 da Tamron, uma lente antiga, que soh teria auto foco na D90. Na D40, coloquei a Nikkor 18-200, minha lente pra todo assunto. Eram as lentes com mais zoom que eu tinha. Tirei algumas com a 50mm 1.8, mesmo sabendo que, com aquele tamanho, ia ser dificil eu usar o bokeh que soh esse tipo de lente me daria. Usei mais pra tirar foto das pessoas, do evento em si.
Quando eu tomei coragem de enfrentar a fila pra chegar ainda mais perto do Gundam, tive uma surpresa. Eu lah, parado na fila, e sem ninguem no palco onde o Gundam estava de peh. O que vai acontecer? De repente, toca o tema de batalha da serie. Dos propulsores e estabilizadores, comeca a sair fumaca (e, pra quem estava perto como eu, agua, que JORRAVA junto com a fumaca). As luzes dos olhos do mobile suit comecam a piscar e quando acendem, como se fosse um orgasmo multiplo simultaneo, centenas de pessoas babam. Oooooooh! A cabeca do Gundam se move pros lados, como se buscasse seu inimigo. E de repente, ele olha pra cima. Simples assim. Nada de mais? Eh por que voce nao estava lah!
Claro que se tivesse mais movimento seria mais legal ainda, mas soh aquilo jah me deu uma satisfacao enorme de ver! Se no momento em que ele olha pra cima, seu braco de levantasse pro alto, seria quase como uma reproducao de seu momento final, que eh claro, nao vou contar. Assistam o Meguriai Sora, o ultimo filme que compila a serie.
Quando decidi voltar pro carro e descarregar o memory card, finalmente me dei conta da quantidade de gente que estava em volta. Era como uma enorme festa! As lojinhas vendendo comida, as pessoas, centenas de pessoas, andando, batendo fotos, simplesmente espantadas. E mais e mais pessoas chegando a toda hora. E a reacao delas, quando olhavam o Gundam pela primeira vez, me lembrando um momento nao tao distante: “CARALHO!!!”
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Nota final…
Bati tanta foto e tirei videos que no final, acabou a bateria e nao pude tirar fotos da cerimonia com o Gackt… Que falta faz uma reserva….
Pra ser mais sincero, acabou a bateria, da camera e a minha e eu fui embora, esquecendo que tinha ainda a cerimonia. Meia hora que eu tivesse esperado a mais, jah dava pra ver…. Maldicao!!!!
Cara, sensacional! Qua bom que vc pode ver e nos contar! Mais que ver fotos, a reação de um fã é sempre mais legal de se ouvir/ler!
ResponderExcluirUm abraço, F/X sortudo!