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5 de fev. de 2009

Bakuman - parte 2

Yo!

O post anterior na verdade, deveria ter sido a segunda parte do post sobre Bakuman. Lembrei depois que terminei.

O assunto em questao deveria ter sido a diferenca entre os autores, a forma de criar. Em Bakuman, isso eh enfatizado pelo rival da dupla da historia. Niizuma Eiji eh a natureza da criacao. Genial, talentoso, sua vida se resume ao manga. Quando estah criando, ele entra na historia e em certo ponto, ele mesmo diz que nao sabe o que esperar de suas historias, ele mesmo fica ansioso pra saber como vai ser. Isso porque ele deixa os personagens viver e escolher os caminhos.

Por causa disso, sua forma de criacao tambem eh diferente. Ele nao faz o nemu, o rascunho da historia. Eiji parte direto pra producao das paginas. Vai desenhando direto com a pena, sem lapis. Pra uma pessoa comum, isso eh impossivel. Voce precisa ter uma imagem muito forte da cena e uma habilidade muito grande pra passar essa cena pro papel.

A outra opcao eh a de Akito, escritor da dupla. Ele faz sinopses, pensa em historias por dias, e soh entao eh que ele faz o nemu, para que seu parceiro desenhe. Suas historias sao planejadas, as reviravoltas sao colocadas sob medida e a trama eh mais inteligente. Para algumas historias, isso eh simplesmente inevitavel, voce precisa de um pouco de planejamento, por exemplo, se quiser fazer uma historia de suspense, ou uma grande conspiracao, como 20th Century Boys.

Em 20th Century Boys, Naoki Urasawa, autor de Monster, faz uma historia de herois completamente peh no chao, usando elementos pops e a onda de nostalgia que se espalhou pelo mundo todo nesses ultimos anos. A historias comeca com flashs diversos de historias que vao aparecer somente dez, vinte volumes pra frente. Sao anos de publicacao! Talvez ele nao tivesse tudo planejado, mas de certa forma, ele precisou armar um esquema para que a historia seguisse um trilho.

Porem, alem disso, Urasawa eh um meste em criar personalidades. Cada pessoa que aparece na historia eh verdadeiro, real. Cada um tem um jeito diferente, lembra alguma pessoa real que voce jah deve ter visto e age conforme o esperado.

Eh a uniao do modo Eiji, de deixar os personagens agirem, com o modo Akito, de planejar tudo.

Ai, volto para minhas antigas historias. Na minha experiencia (??), eu jah fiz de tudo. Ateh Dream Maker, eu praticamente nao fazia rascunho, desenhando direto, soh finalizando depois. Minhas historias soh tinham mais ou menos a quantidade de paginas marcadas - quatro ou cinco folhas sulfites dobradas no meio, que dao mais ou menos vinte paginas por historia - e eu ia escrevendo e deixando as ideias cairem na folha. Assim, em duas horas eu tinha a historia completinha. As vezes, menos. E eu escrevia muito e tinha muitas ideias! No Brasil, eu tinha um armario onde um espaco, de mais ou menos um metro cubico, era soh de historias em folhas sulfite dobradas no meio. Eu gastava um bloco de 500 folhas em um mes, dois. Era cliente da Kalunga da Vila Mariana...

Eu era um Eiji. Nao tinha pretensao de virar profissional, era soh um hobbie, que nasceu do meu gosto por desenhar, mais o prazer de ler, que eu tinha descoberto a pouco tempo, com X-Men. Meu negocio era desenhar, criar personagens, historias, imaginar.

A primeira mudanca na forma de escrever aconteceu quando eu comecei a fazer fanzine com alguns amigos da escola. Escrever em grupo, com tres, quatro pessoas no mesmo comodo, conversando e trocando ideias, ou simplesmente com os outros lendo no meu ombro, enquanto eu escrevia, jah mudava.

O modo Eiji de escrever infelizmente eh um jeito bem egoista de escrever. Voce escreve pra voce mesmo, o que voce quer, da forma que voce preferir. Por isso, eh o terreno dos genios. Fazer algo realmente bom disso eh algo em torno de um em um milhao. Nao existe um know how de como fazer leitores, voce precisa esperar o resultado. Nesse caso, o modo Eiji eh uma loteria, onde voce tem soh o talento criativo como arma.

Por isso, trabalhar em grupo foi uma coisa muito boa. Alem de agregar novas ideias e formas de criar, voce ainda tem um feed back instantaneo. Voce sabe o que agrada e o que nao agrada na hora. Claro, tem aqueles que gostam de passar a mao na cabeca e tudo que voce faz eh muito bom. Mas nao deixa de ser proveitoso, nem que seja como apoio moral.

Dessa epoca, eu tive minhas primeiras experiencias de colaboracoes. Em geral, eu escrevia para alguem desenhar. Basicamente, eu fazia o que eu sempre fazia, sem finalizar. Dai, alguem desenhava por cima.

Com o tempo, isso me ensinou como eh importante ter algum planejamento. Pensar nos leitores eh uma coisa, mas pensar em um possivel parceiro de trabalho eh completamente diferente. Se voce nao passar a ideia certa, nao souber expressar sua visao da forma correta, o desenhista pode errar, pode fazer diferente, pode colocar elementos que nao existem e nao colocar outros, e na pior das hipoteses, pode mudar a historia.

Mais pra frente, eu pretendo escrever sobre algumas formas que eu conheco de como indicar o desenhista.

Escrever, quando passa da fase do escrever por prazer e passa a ser escrever para alguem, com algum objetivo, eh algo muito mais complexo. Esse inclusive eh o tema das historias mais recentes de Bakuman. Nao importa o quanto voce ache que tem talento, que eh um genio. Lidar com a sorte, jogar com seu publico pode dar uma chance pra voce um dia, mas nao todos os dias.

Em Bakuman, os proprios editores falam que Eiji eh o tipo do sucesso instantaneo, mas descartavel. Eh o tipo de pessoa que faz um grande sucesso mas nao consegue implacar outros. Pro lado da editora tambem eh uma loteria...

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